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Manuscrito: Entrevista a Erico Veríssimo por Jorge de Sena (1961)

 


Entrevista de Jorge de Sena a Erico Veríssimo (1961)

No ano de 1959,  na sequência de uma tentativa fracassada de derrube do regime salazarista, que ficou conhecida como "O golpe da Sé" , onde participaram cerca de duzentas pessoas, entre católicos, civis e militares, o escritor Jorge de Sena, que se encontrava entre os protestantes, saíu de Portugal e exilou-se no Brasil.

Esta entrevista, cujo título é "Com Erico Veríssimo em Porto Alegre", data desse período de exílio e aconteceu quando Jorge de Sena foi recebido pelo escritor Erico Veríssimo e pela sua família na sua casa de Porto Alegre:

"Passando uns excelentes dias de férias, em sua casa, na intimidade do artista e de uma família encantadora de simplicidade, como ele...." - Jorge de Sena

O documento vai escrito em quatro páginas plenas. Sendo que a primeira, dactilografada, dir-se-ia ter sido escrita "à posteriori" para servir de introdução ás restantes três páginas manuscritas onde se encontra a entrevista propriamente dita. Na página dactilografada, Jorge de Sena, diz-nos que Erico Veríssimo se encontra a trabalhar na terceira, e última, parte da sua "Magnum opus" - "O Tempo e o Vento", falando-nos do método de trabalho do escritor e dos seus horários e hábitos quotidianos.

O diálogo da entrevista  aborda o trabalho da já referida obra "O Tempo e o Vento", os futuros planos literários do escritor e nele encontramos, também, uma saudação do escritor ao povo português e ao seu editor em Portugal , António de Sousa Pinto, proprietário da editora "Livros do Brasil".

O destino deste trabalho do escritor Jorge de Sena era o de ser enviado para Portugal e chegar ás mãos de Sousa Pinto, para que fosse incluído na edição do Boletim Bibliográfico LBL, da editora "Livros do Brasil", boletim esse que foi editado de 1961 a 1967, e que muito contribuiu para o conhecimento e difusão da literatura brasileira no nosso país.

Alguns excertos do texto:

"Erico Veríssimo, na sua casa de Porto Alegre, a capital do Rio Grande do Sul, seu Estado Natal, revê e ultima a terceira parte da sua obra magna: O TEMPO E O VENTO (...)

(...) A responsabilidade que pesa sobre Erico Veríssimo é enorme: trata-se de levar à conclusão uma obra de imensas proporções, que o colocou na primeira fila do romance contemporâneo, e trata-se de apresentar aos leitores -  e o problema é sobretudo brasileiro - uma época que toda a gente viveu, da qual muitos protagonistas estão vivos (...)

(...) Veríssimo levanta-se muito cedo, dedica-se à sua obra ou aos estudos até perto da hora do almoço, e sai então, regra geral, a dar um pequeno passeio a pé. Depois do almoço frugal, repousa lendo. À tarde, ou desce à cidade, ou trabalha e lê. À noite, amigos seus aparecem para uma conversa sossegada, em que a literatura não predomina (...)

 (...) Foi expressamente para os leitores do Boletim de Livros do Brasil que tivemos a conversa seguinte(...)

(...) - Que significado atribui a O Tempo e o Vento?

- É o livro que sempre desejei e temi escrever. É a história da minha terra e da minha gente através de duzentos anos. É um pouco a história da minha vida e da minha geração (nesta última parte), embora não se trate de uma autobiografia. Espero que ele ajude o leitor a compreender o que nós, brasileiros do extremo Sul, somos hoje em dia... e, se possível, por quê. (...)

(...) - Quais os seus planos de escritor, uma vez liberto da edificação dessa obra magna?

- Tenciono continuar a escrever romances... mas curtos. E também algumas obras de divulgação, como uma História de Arte, uma Geografia Humana, etc. Sim, e voltarei a escrever para crianças. (...) 

(...) - Quer dizer algumas palavras para os seus tão numerosos admiradores em Portugal (...)

(...) - Algumas palavras? Para dizer da minha gratidão e da minha simpatia pelos meus amigos portugueses, eu precisaria dum livro inteiro. Passei em Portugal vinte dias inesquecíveis. Creio que essa viagem foi o ponto mais alto e mais belo belo da minha carreira de escritor. Estou convencido de que todo o brasileiro devia visitar Portugal, como parte importantíssima de sua educação cívica. Quero por meio deste boletim - ao qual desejo vida longa e sucesso - mandar um cordial abraço aos meus leitores e amigos portugueses, que espero rever um dia. E que o meu caro Jorge de Sena seja, através desta entrevista, o transmissor do muito afectuoso abraço que mando ao meu editor em Portugal, o meu prezado amigo Souza-Pinto."




Documento bem conservado. As folhas foram furadas com um furador, mas, o texto não é, em nenhuma delas, atingido pelos furos. Todas as páginas apresentam correcções manuscritas feitas por Jorge de Sena, o que nos leva a uma maior proximidade do trabalho do escritor e valoriza o documento. No final da quarta página vai  a assinatura de Jorge de Sena e o local e data em que o trabalho\entrevista aconteceu: "Porto Alegre. Janeiro de 1961". 

Peça de Colecção.  Preço sob consulta.

Para encomendar, use, por favor, o endereço de email: livrosenarrativas@gmail.com , ou, o contacto telefónico: 91 667 34 09. Obrigado!