Há 180 anos nascia Antero de Quental

 

Há cento e oitenta anos (18 de Abril de 1842) nascia, em Ponta Delgada, Antero Tarquínio de Quental, um dos Poetas maiores da alma portuguesa.


"Mors-Amor"

Esse negro corcel, cujas passadas

Escuto em sonhos, quando a sombra desce,

E, passando a galope, me aparece

Da noite nas fantásticas estradas 


Donde vem ele? Que regiões sagradas

E terríveis cruzou, que assim parece

Tenebroso e sublime, e lhe estremece

Não sei que horror nas crinas agitadas?


Um cavaleiro de expressão potente,

Formidável, mas plácido, no porte,

Vestido de armadura reluzente,


Cavalga a fera estranha sem temor:

E o corcel negro diz: «Eu sou a Morte!»

Responde o cavaleiro: «Eu sou o Amor!»

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"Na Mão de Deus"

Na mão de Deus, na sua mão direita,

Descansou afinal meu coração.

Do palácio encantado da Ilusão

Desci a passo e passo a escada estreita.


Como as flores mortais com que se enfeita

A ignorância infantil, despojo vão,

Depus do Ideal e da Paixão

A forma transitória e imperfeita.


Como criança, em lôbrega jornada,

Que a mãe leva no colo agasalhada

E atravessa, sorrindo vagamente,


Selvas, mares, areias do deserto...

Dorme o teu sono, coração liberto,

Dorme na mão de Deus eternamente!